Setembro de 1963. Faltam-nos canções, ou pelo menos canções que julguemos capazes de chegar à tabela. O nosso baú de R&B está cada vez mais vazio e não oferece nada de plausível.
Ensaiávamos no Studio 51, perto do Soho. O Andrew tinha desaparecido para dar uma volta, desanuviar do ambiente carregado, e deu com o John e o Paul, acabados de sair de um taxi em Charing Cross Road.
Foram tomar um copo os três e a angústia do Andrew não passou despercebida. Ele explicou-lhes o problema: não tínhamos canções.
Vieram ter connosco ao estúdio e o John e o Paul deram-nos uma canção que faria parte do seu próximo álbum mas que não sairia como single, "I Wanna Be Your Man". Tocaram-na connosco. O Brian acrescentou uma guitarra slide à maneira. O produto final soava indiscutivelmente mais a Stones do que a Beatles e ninguém duvidou que teríamos ali um hit.
Eles estavam bem cientes do que faziam. Eram autores de canções que tinham de vender a sua mercadoria como os gajos da Tin Pan Alley e acharam que aquela canção se adequava bem a nós.
Além disso, havia entre nós uma estima recíproca. O Mick e eu admirávamos-lhes as canções, as harmonias; eles invejavam a imagem, a liberdade de movimentos. Agradava-lhes a ideia de colaborarmos. Sempre tivémos uma relação muito amigável com os Beatles.
E decidimos praticamente coordenar actividades: como na altura saíam singles a cada seis, oito semanas, tentámos conjugar calendários para que não houvesse sobreposições.
Lembro-me de o John Lennon me ligar e dizer:
- Temos disco, mas ainda falta misturá-lo.
- Nós já temos um pronto.
- OK. Vocês primeiro, então.
Keith Richards, "Life", Theoria, 2011, págs 147 e 148
Copiado do Ié-Ié
1 comentário:
Demasiado grandes para este mundo mesquinho
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