segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Flying Lotus




Fritaria musical dissonante e mesmo assim incrivelmente harmónica. Arranjos complexos em várias camadas, com pequenas surpresas por todo o lado. É com imenso talento que este artista de Los Angeles vem surpreendendo a indústria musical desde o seu primeiro trabalho em 2006. Tem tido uma evolução acentuada, o que culminou em 2010 com o EP Pattern + Grid World e o album Cosmograma. Este último tem a participação de Thom Yorke na faixa ...And the World Laughs With You (que pessoalmente aprecio mais que cerca de metade do último album dos Radiohead).

Como o talento também tem base genética, não me espantou quando soube que a família de Steven Ellison aka Flying Lotus tem um background musical. O seu tio-avô foi o grande visionário do jazz e lendário saxofonista John Coltrane, a sua tia-avó a multi instrumentalista Alice Coltrane que começou a incorporar no jazz tendências da música indiana e o seu primo é o saxofonista contemporâneo Ravi Coltrane.

Mas pavonear-se dos louros dos ascendentes é regra geral má ideia nos dias que correm, e Flying Lotus tem um estilo musical bastante amplo, que incorpora tanto a riqueza dos arranjos melódicos do Free Jazz (ex: Arkestry e German Haircut), como batidas mais uptempo (Recoiled) e uma mistura fantástica entre o plano sonoro de um sonho orquestrado e sons midi que parecem de um jogo da Nintendo do início dos anos 90 (drips/Aunties Harp). Até tem uma música chamada Table Tennis com voz de Laura Darlington (mulher do artista Daedalus que já tinha aqui referido) em que se ouvem efectivamente bolas de ténis de mesa a serem bombardeadas de um lado para outro ao som de uma voz calmante e melodia dissonante. Isto lembra-me o Pet Sounds dos Beach Boys em que se ouvem durante o album cães a ladrar e latas de refrigerante a bater umas nas outras.

O album e especialmente o EP, ao primeiro encontro parecem algo estranhos e difíceis de abordar, mas dêm-lhes algum tempo e ficam contagiados pela originalidade e variedade das composições. Ouvi os trabalhos pela primeira vez pouco antes do Natal e só agora é que fiquei verdadeiramente cativado pela sua riqueza e qualidade.

1 comentário:

silva disse...

O King of Limbs tambem tem um bocado disto!